sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Não aceitamos projectos na Camacha

O manancial de frases fáceis que utilizamos como engodo dos nossos projectos é fecundo.
Ora bolas! Se tenho um cliente que me pede um projecto para uma urbanização, rodeada por um enorme pomar junto à praia de Carcavelos, nada mais óbvio do que:
"Do Pomar a ver o mar"
(escrito em arial 124 azul sobre umas nuvens, com um belíssimo render de fundo)
Para quê pseudo-intelectualismos de "o gesto arquitectónico harmonioso como redentor do espaço que preconiza uma área..." ??? Stravinsky disse que era irrelevante saber se Beethoven se inspirou em Napoleão quando criou a Terceira Sinfonia, pois só a música importa. Aqui o importante é que o saloio perceba e pague, e que o povo goste e compre. Se para uma casa de praia o escrito é "na Praia da Mata com uma sala grande que se farta", ou se para um bar gay no Porto escrevo "bebo um fino na Foz do Douro enquanto como o cu a um Mouro" e se isso per si torna o meu projecto vendável, é o que interessa! Há algum tempo pediram-me um projecto para uma casa de meninas na Camacha. Vacilei! O projecto pronto e, embora brilhantemente óbvio, o escrito soava a pouco ético. Eis que, tive a brilhante ideia de dar ao estagiário para assinar e "Na vila da Camacha já se sente o cheiro a paxacha" (Fantástico este trocadilho que realça a aproximação semântica da palavra "paxaxa" com "Camacha" com a substituíção do "x" por "ch"!!) foi a chave do sucesso.
Termino com um dito de minha autoria que irei incluir certamente noutro projecto:
"Deus quer, o arquitecto sonha, a obra nasce."
(Desculpa Pessoa mas hoje nada se inventa, além do mais, a palavra "arquitecto" muda todo o sentido frásico e já és do domínio público)

1 comentário:

Whisky disse...

E esqueceste "a casa ramalho que é boa pa car..." ou "Cada lisboeta tem direito a uma punh..." enfim são tudo slogans para vender o mais possivel... Casa na mouraria é para ti e para a tia!